segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Historinha de ninar crianças e adultos

Pra ela a forma mais completa de viver era semeando. Semeava amigos, semeava boas risadas, conversas infinitas num banco de praia, o sol, semeava tudo que lhe cabia - tirando, é claro, nos dias de mal humor.
Aprendera a semear simplesmente, fosse o que fosse. A duras penas. Porque tinha também outro lado que era contrário, tinha maneira fácil de enraizar. E querer que o mundo fosse o mesmo, porque ela também era a mesma. E era o que lhe dava serenidade.
Ficou muito tempo assim, enraizando e aglomerando tudo o que era possível. Se apegava, e aí era difícil deixar algum pedacinho seu sair pela vida, a passear sem ela. Não era, de modo algum, por maldade ou vaidade, era só por não querer perder o que lhe era importante, essencial.
Quando as mudanças vinham, sofria. E parecia um grão, de tão pequena que ficava. Chorava, se trancava em casa, até o momento que se sentia de bem com ela de novo.
E lá ia ela para mais um acolhimento, de gente, de coisa, de sentimento. Agarrava todos os seus momentos e era feliz assim.
Um dia, confundiu alguma coisa lá dentro e teve vontade de fazer um passeio que nunca tinha feito antes. No outro dia, quis experimentar uma fruta que ainda não tinha provado. Dali, foi querendo conhecer mais e mais coisas que nem sabia que existiam, porque nunca sequer tinha olhado para elas.
Ficou intrigada. E se perguntava como isso podia ter acontecido. Percebia agora que algumas raízes já estavam envelhecidas e secas, e que era hora de deixá-las ir embora. Doeu ter que arrancar algumas raízes, mesmo sendo necessário.
Mas percebeu que mesmo depois disso, ela ainda podia lembrar. Passou a lembrar com carinho de todas as raízes que tinham passado. E ficou satisfeita com a possibilidade de poder semear, até o momento que aquilo lhe fizesse feliz.
Ficou contente de poder lembrar das raízes e semear quantas mais sementes fossem precisas para a vida ter o colorido que o seu momento, a cada momento, pedia.