Definitivamente, não sei o que dizer, como expressar meu espanto e minha descoberta de hoje. De hoje?
Sim, hoje gritei "eureca!" em silêncio. Atônita. Com os olhos esbugalhados, quase que saltando.
Não, porque não descobri e me espantei só com aquele momento do hoje.
Algo me diz que isso tem acontecido há um ano, talvez um pouco mais, quando da minha odisséia, a mais recente. Porém o mesmo algo também me diz que tem acontecido há muito mais tempo. Bem mais tempo. Talvez desde que nasci ou talvez até antes disso. Como saber? Como precisar datas?
Vou tentar começar. Começar o que já está começado?
Começar a dizer. Dizer o indizível?
As palavras não dizem tudo. Há uma parte que não se diz. Não porque não se queira, simplesmente porque não é da função da palavra, coitada!
Embora uma outra parte minha quisesse que fosse. Precisasse que fosse.
Precisão. A parte minha que clama desesperadamente por precisão. Mas essa parte insiste em dizer: "ora, não é uma precisão exatamente precisa, não, não precisa disso. é só uma questão de organização, mínima que seja, mas preciso de alguma, sabe? precisão, ou melhor, organização".
E a precisão vem de uma frase. Como era mesmo a frase? Droga, por que não anotei a maldita frase.
A frase exata em que tudo ficou claro, da forma mais desorganizadora que eu jamais vira. Não lembro a frase, mas ela reverberou dentro de mim e me fez calar. Pra que argumentos contra ela. Pra que sequer outras palavras, mais palavras.
Entendi aquilo - que eu nem sequer lembro - como se entende tudo que não é dito.
Mas nem sequer a frase era pra mim. Ou era?
(e o telefone toca e não atendo e o celular toca e não atendo. me arrependo. pode ser grave! não era. volto.)
Me atingiu em cheio.
Mas nem era a intenção. Pelo menos, não a intenção que eu dara pra ela.
Ou talvez fosse.
Atingiu o alvo.
Não o alvo que se tinha determinado àquele tiro, porque talvez o tiro nem tivesse alvo.
Atingiu um outro alvo meu.
O alvo que eu criei e que precisava (no sentido mesmo de precisão, precisar teria outro sentido?) ser atingido.
Deveria ter sido atingido na segunda. Ou há anos?
Não foi. Saiu pela culatra. Por que hoje?
Aquele dia não era dia de se atingir alvos, não.
Era dia de andar, andar e afogar-se numa imprecisão, que quase chegava a ser boa, se não fosse a tamanha, a persistente, a monstruosa desorganização causada.
Por que hoje então? Hoje não poderia ter sido um dia mais comum.
Igual: ir, gostar da confusão desorganizada, do riso irônico complacente, da expressão de quem concorda, com os olhos esbugalhados, quase a saltarem da cara, depois andar, andar..
(a testa franzida, turbilhão de pensamentos indizíveis - como as palavras -, resitente, resistente, resistente, neblina branca, pensamento vazio ou vazio de pensamento?, um suspiro, e finalmente, alvo)
Assim e só.
Não. Assim e além de tudo que não se diz, porque tentando dizer, escapa.