Ele era assim. Terminado o namoro, fosse qual fosse o motivo, era o início de um pensamento que se apossava dele, vez por outra: Essa história não acaba aqui. E começava a imaginar e investigar vestígios de uma nova futura relação com aquela mesma pessoa. E não era só infelicidade. Devia ser apego. Tinha dificuldade de acreditar no fim - mesmo que ele fosse a única saída possível. Por isso, talvez, imaginava. Imaginava um futuro em que aquelas duas pessoas, apaixonadas um dia, iriam se encontrar de novo, numa situação completamente outra, e aparência completamente outra também, para começar outra história. Colecionava ânsias de novos encontros com as mesmas pessoas outras. Às vezes, ele mesmo assustado, pensava: será mágoa, será o resto do amor ou será desejo de imaginar, em segredo - como toda imaginação -, vários futuros que ele sabia, nunca chegariam. Também tinha uma certa mania de imaginar futuros com pessoas que acabara de conhecer. Podiam ter trocado apenas três frases. Fingia pra si que conhecia as pessoas sem exatamente as conhecer. Era sua diversão preferida quando não tinha lá muita coisa pra fazer ou quando acometido pelo tédio de dias que pareciam não ter sentido algum. Tédio não era o problema, achava até normal. Ainda não sabia se achava normal era esse comportamento tão espontâneo de imaginar. Imaginar tudo. Imaginar tanto. Imaginar o que não se concretizaria no futuro não seria perda de tempo? Essas horas, se somadas, dariam uma infinidade de momentos vazios, entre um intervalo e outro, entre um café e outro. Será era essa a sua maneira de lidar com os fins, mesmo aqueles fins que ainda não tinham se anunciado, pelo único motivo de ainda não existirem? Ele continuava a pensar, ao final de um namoro, que eles se encontrariam de novo e começariam uma nova relação. Porém, a cabo de uns meses, a imaginação daquela nova história, virava lembrança, como virava lembraça também a história real vivida. E as lembranças não eram, enfim, imaginadas. Claro que cada um tem a sua maneira de lembrar - ou de esquecer. De qualquer jeito, depois desse tempo - que não era determinado exatamente por ele, mas por uma parte dele de que não tinha controle e que desconhecia razão - aquela imaginação toda se desgastava, até sumir por completo. Sair da vida dele, definitivamente. E assim, não restava dúvida de que a relação havia terminado. Não sobrava mágoa, raiva, ressentimento, culpa, nem amor. Era um ciclo que se fechava para, quem sabe, começar outro em breve ou dalí há algum tempo, mas não importava.
Ele precisava continuar aquelas histórias inventadas para pôr fim nas histórias reais.
depois da leitura de "A favor do medo" de Clarice Lispector. A Descoberta do Mundo, p. 42,43,44.
10/11/11