Tenho acordado assim. Não é pois, uma decisão. É talvez uma condição. Não de todo dia, mas tem sido frequente.
Uma amiga enviou um trabalho dela que pedi e resolvi então, lê-lo ao invés de fazer o meu.
Bom. Muito bom. Me fez (está fazendo) reunir alguns pensamentos de ultimamente, mas principalmente, sensações que até agora não tinha conseguido transformar em palavras. O que se segue então são assuntos relacionados, ou que eu tenho relacionado na cabeça (e não só lá) desorganizadamente.
No momento que li de novo o trecho me arrependi de não ter escrito a
frase que me passou pela cabeça quando li aquele trecho no livro. Agora ela me
faz falta. Mas o trecho é mais ou menos assim. O tom de diário do livro dela é
inventado, forjado como forma de atingir o leitor. Mesmo com o tom íntimo, não
se chega (nunca) à intimidade mesma na escrita. Concordo. Mesmo que o diário
fosse de verdade, pois que existem diários de verdade, a intimidade total não
se dá porque se imagina que ele possa ser lido. Ou porque intimidade não possa
ser “comunicável literariamente”.
O texto e o livro me fizeram (re) pensar nisso. A escrita, literária
ou não, acadêmica ou não, íntima ou não é sempre forjada, de um modo ou de
outro. Simplesmente porque se pensa que alguém lerá um dia ou poderá fazê-lo,
então artifícios são usados. Comigo é assim, apesar de continuar achando bem
biográfico o que escrevo.
Viu. Penso em algumas coisas, mas não escrevo. Quero escolher o que
cabe melhor aqui. Penso se vou falar da estética. Não. Mas acho que tem a ver
com isso também. Cadê aquele trecho? Não acho. Já havia me prometido não voltar
ao texto. Escrever a partir do que ficou dele em mim. Partes importantes seriam
perdidas, puladas. Mas sempre são, não? Não há como ser diferente. Aí lembro
das questões de memória e verdade. E a palavra forjada aparece de novo. Ambas forjadas, posto que outras memórias
e verdades são esquecidas. Aqui também há artifício.
Bem, a estética. Concordo com Clarice que não há separação. Forma e
conteúdo são uma coisa só. Mas a Ana também brinca que queria fazer design
gráfico para inventar o livro antes do texto (era o trecho que queria achar).
Concordo também. Tanta gente diz coisas parecidas, mas a forma, deus, como é
diferente. Estética não é isso?
“Onde o limite? Desde onde o limite?”
Clarice mesmo. Acabei de ler Perto do Coração Selvagem. Não é difícil
por ser hermético. É justo o contrário. Como acompanhar com o pensamento o que
é pra ser sentido? Como entender algo que não se diz com palavras? E como
poderia ela dizer senão com palavras?
Confluências. Não tenho conseguido achar palavras. Mais: não tenho
conseguido achar. E não acho palavras para dizer o que.
eu no trabalho. trabalho em mim.
eu no trabalho criativo. meu trabalho criativo. criatividade em mim no
trabalho.
eu criativo. ócio criativo. criatividade em mim.
Meu intestino não vai muito bem, acho que anda reclamando.
Talvez se soubesse gritar, gritasse. Eu não grito, fico muda.Fui procurar. Intestino na apostila de reiki. O chakra raíz ou era o umbilical? relacionado também ao intestino diz respeito à criatividade. Não lembrava. Só lembrava que “toda doença começa no intestino”. E que o intestino é o órgão mais importante, depois do cérebro. Será porque ali está a fonte da criatividade? Quando esta começa a minguar, a doença aparece? Seria assim?
Gosto da filosofia oriental, em especial a indiana. Quero ler sobre
isso. Quero ler Spinoza e Artaud também. Ia mandar um email pro André pedindo
referências e não mandei.
É que outro dia estava pensando de novo, por conta de uma conversa, na
vida artista do Artaud. No que ele fala sobre isso. Há tempos quero ler e nada
ainda. A conversa foi intrigante. De novo: confluências. Segundo ele, e pelo
muito pouco que sei sobre isso, a vida artista é vivida no cotidiano. Não vou
me atrever a falar mais sobre isso pra não falar abobrinhas. Mas a primeira relação
que me vem à cabeça é da arte contemporânea: arte e vida juntas, inseparáveis.
Realizada por não-artistas (lembrei de dois textos legais. a educação do
não-artista I e II, Allan Kaprow). Como nos primórdios. E lembro de novo, de
como o Ocidente tem por hábito separar as coisas.
Talvez, com a ajuda da internet, estejamos caminhando pra isso que vem
propondo a arte contemporânea de um modo geral. Possibilidade de gravar o
próprio vídeo, de editar o próprio livro, de fazer a própria música. Acesso. Acesso
ao cd do fulano, do livro digitalizado..
Sou do grupo que acredita que o acesso e a gratuidade desses bens culturais
são inevitáveis e ótimos para a sociedade. Mas indo direto ao ponto: escritores
e músicos vão viver de quê? Artistas vivem de quê?
Vive-se de quê hoje?
Se vivêssemos todos como artistas, como sugere a arte contemporânea e
talvez Artaud, não sei, e como preconiza a internet, sob um determinado
aspecto. Sem vendê-la (a arte).
Virei o ano num sítio no mato. A condição era a mesma de agora, mas
parecia viver apenas ao invés de enrolar. Me parecia mais saudável. E
produtivo. Por que a diferença abissal então?
A lógica era outra. E com ela todo o resto: o ar, o verde, o rio, o
balanço da rede, o almoço, o tempo.
Descobri depois da leitura do texto, que é essa A lógica que corresponde
as minhas sensações (agora e sempre? agora e nunca mais?). E não há negociação,
achei que havia, não há. Não é a mudança de trabalho somente, é a mudança de
uma lógica que engendra todos os aspectos da vida. Se se quiser viver.
Um comentário:
Fui lembrando de um monte de coisas: conversas, livros, links. Queria escrever o que pensei, mas acho que não sei.
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