domingo, 10 de agosto de 2008

Não seria difícil supor que ele a amava. Estava em seu rosto. No olhar que se amiudava quando sorria. Nos gestos cada vez mais freqüentes e nas palavras cada vez menos contidas.
Ela também. E não saberia dizer quando havia começado. Nem como ou onde. Por que havia se apaixonado ela não saberia responder.
Ambos sabiam, mas de alguma maneira ambos tinham dúvida. Às vezes do próprio sentimento e às vezes do outro. Sabiam em silêncio.
Talvez por precisarem comprovar a cada instante aquilo que sentiam. E isso não era orgulho.
Tinham tido até ali, alguns bons momentos – apesar do pouco tempo.
Viagens, – que para ele eram a melhor forma de demonstrar afeto – conversas – que para ela eram a melhor forma de demonstrar intimidade – e música que era consenso entre os dois.
Mesmo assim, ela não saberia o que dizer sobre o grau de afinidade entre eles e ele talvez nunca tivesse pensado nisso.
O certo é que tinham sim afinidades. Apenas algumas poucas diferenças causadoras de brigas sérias. E um mar com todo o resto.
Resto não era uma palavra que ele gostasse. Mas resto aqui era o entorno. O que ia além das afinidades e diferenças. E o que era?
Isso também não saberiam dizer.
Será que era possível descobrir o que os unia além das afinidades e diferenças? Será que não era pouco tempo pra saber? Será que era de fato importante?
O que tinham era uma alegria que não cabia, uma saudade que gritava calada. Se bem que a saudade – mesmo sem saber quantificá-la – essa eles sabiam dizer.
Ela era ávida em conhecer tudo o que pudesse dele. Ele já o fazia sem pressa. Tinha um ritmo próprio de lidar com as coisas. Lento.
Ela se irritava no início, mas depois achava graça. Aprendeu a lidar com outro ritmo que não o seu, com outra maneira de enxergar o mundo que não a sua. E gostou.
Esse gostar comum fazia com que continuassem. Já não era mais pra saber até onde se podia chegar. Era um gostar carregado de sentido, mas que também se permitia não ter sentido algum.
Talvez a dúvida fosse timidez. Dele. Não que ela não fosse. Era. Mas sua timidez já não a impedia de certas coisas. Já havia se livrado desses mecanismos. Ou criado outros.
Ela entendia os momentos de pausa. Sabia reconhecê-los. Eles não a assustavam mais.
Sabia que gostava, apesar desses momentos em que era mais fácil acreditar no contrário. Duvidar.
Era a certeza que queriam. Uma certeza que se queria eterna. Mas isso nem ela nem ele teriam. Só no fim. E quando seria, como seria, onde seria? Antes teriam que se deixar dizer eu te amo.
Mas ele, ele sempre fora menos decidido que ela.


22/07/08

4 comentários:

Giselle Veiga disse...

ah...colocou! =)
Gostei muito..

bejins de irmã.

Caroline Tavares disse...

Que lindo!!! Que capacidade de percepção, de síntese, que desapego!...

(Lembrei de uma música que a Bethânia canta que diz: "é tudo brincadeira e verdade".)

Amo.

Anônimo disse...

sutil e parece sincero... posso estar enganada... mas n é mesmo esse o objetivo de se escrever, confundir o real com uma pitada do q se imagina?
minha doce e sempre querida juju de guardar no bolso, fico feliz de agora comnpartilhar da suas devagações!

Net disse...

passeando entre mtos blogs parei aqui....parei e li este texto e simplesmente me apaixonei..