Naquela madrugada não havia mais nada que se pudesse fazer. Estava de férias e acordava tarde todos os dias, almoçava quase na hora da janta e à noite ficava procurando o que fazer. Na maioria das vezes acabava era dormindo mesmo, depois de fazer uma coisa aqui outra acolá. A noite sempre fora parceira em leituras, escritos e devaneios. E naquela madrugada resolvera escrever. Não, não tinha um tema. Mas como de costume, a primeira frase veio na cabeça e pronto. Estava feito. Ou melhor, ainda seria feito. Mais algumas frases e nada ainda. Olhou em volta. Não queria nada tão denso, porque sentia-se leve. Leveza ou vazio? Roeu a unha. Parou - não roía mais as unhas. Pensou em falar de alguma coisa casual, talvez do carro que tinha enguiçado na saída do supermercado. Não.. não saberia o que dizer além disso. Não saberia o que dizer sobre nada naquela noite. Os pensamentos estavam dormindo. Os sentimentos também. A vontade de escrever talvez não tivesse sentido, naquele momento. Resolveu de súbito dormir também. Talvez nos sonhos, achasse o que dizer.
4 comentários:
gosto desse.
quanta coisa pode ser dita no não-dizer...
"creio que a madrugada faça isso conosco, um demorar de horas distraídas" - floratomo (atomosemrevolução)
Muito bom.
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