De repente, como num filme ou livro, tinha percebido algo que parecia estranho. Percebera, após a leitura e
aos pensamentos que a procederam, uma sensação que julgava não estar ali antes.
Ou já estava? Escondida entre planos e projetos diversos. Como não havia dado
foco a ela? Talvez a sensação não estivesse realmente ali. Talvez ela
tivesse nascido naquele instante, ao final da leitura. Não conseguiu entender
como aquela sensação aparecera assim, tão verdadeira, tão intensa, tão
arrebatadora.
Passava a se ver de fora. A
projetar sua própria trajetória como se fosse a história de um livro ou filme.
Havia sentido isso alguns dias antes, em um ônibus. Na condição de passageira
havia se sentido também passageira de sua história, como quem olha pela janela.
Talvez tivesse sido um sinal. Mas só percebia essa possibilidade agora. E agora
era ainda mais forte. Compreendeu que devia fazer algo com aquilo. Agora estava
claro.
O dia estava claro. Depois de
dias de muito sol, hoje amanhecera nublado, mas claro. Desde ontem sentira no
ar, uma tranquilidade transparente. Pensara nos últimos acontecimentos com
exatidão. Estava tranquila como um passageiro que aguarda
chegar perto de seu ponto, para dar o sinal.
***
De repente, aquela sensação. Quis
aproveitá-la ao máximo – sem saber ao certo o que poderia ser aproveitar uma
sensação. Pensou em algumas possibilidades de ação. Poderia procurar endereços
de emails e se achasse, poderia enviá-los. Quem sabe obtivesse resposta.
Poderia marcar um encontro com uma antiga amiga, que talvez pudesse ajudá-la.
Podia uma infinidade de coisas. Mas de qualquer jeito, seriam ações
posteriores. Como aproveitar aquela sensação de quem saboreia, por longos
minutos, um sorvete?
***
Gostava de ter escolhido o que
lhe possibilitava participar do movimento das coisas. Gostava de vibrar, quando
depois de trabalhar exaustivamente, era hora do desenrolo daquele movimento
todo. Vibrava ao observar a vibração das pessoas. Do que aquilo causava nelas.
Vibrava com os pés, com as mãos, com os olhos, vibrava com o corpo todo.
Vibrava quando encontrava outros olhos vibrando, e ria. Era disso que mais
gostava.
Por isso, o espanto. Apesar de
saber, desde criança, que gostava também do silêncio, como encarar a sensação
de precisar passar para este outro lado? Encarar o silêncio. Sozinha. Encarar a
decisão de dar foco ao que até ontem era extensão de si mesma.
A sensação passara. Ficaria agora
com o silêncio, o seu silêncio, vibrante.
26/10/12
Um comentário:
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